Saturday, March 25, 2006

Genial

A Verdade…

“…Naquele rosto devastado pelo ódio contra a filosofia vi pela primeira vez o retrato do Anticristo, que não vem da tribo de judas, como pretendem os seus anunciadores, nem de um país longínquo. O Anticristo pode nascer da própria piedade, do excessivo amor de Deus ou da verdade, como o herege nasce do santo e o endemoninhado do vidente. Teme, Adso, os profetas e aqueles que estão dispostos a morrer pela verdade, que de costume fazem morrer muitíssimos com eles, frequentemente antes deles, por vezes em seu lugar. Jorge cumpriu uma obra diabólica porque amava de modo tão lúbrico a sua verdade que ousava tudo com a condição de destruir a mentira. Jorge temia o segundo livro de Aristóteles porque ele ensinava talvez a deformar deveras o rosto de toda a verdade, a fim de que não nos tornássemos escravos dos nossos fantasmas. Talvez a tarefa de quem ama os homens seja fazer rir da verdade, fazer rir a verdade, porque a única verdade é a que aprende a libertar-nos da paixão insana pela verdade.

…Tantra e Karma

“…, e depois tinha-se iniciado uma cadeia de causas e de causas concomitantes, e de causas em contradição entre si, que tinham procedido por conta própria, criando relações que não dependiam de desígnio algum. Onde está a minha sabedoria? Comportei-me como um obstinado, perseguindo um simulacro de ordem quando bem devia saber que não há ordem no universo.”

“…A ordem que a nossa mente imagina é como uma rede, ou uma escada, em que se constrói para alcançar qualquer coisa. Mas depois deve-se deitar fora a escada, porque se descobre que, se acaso servia, era privada de sentido.”

O nome da rosa, Umberto Eco

(Finalmente li e, como seria de esperar, é ainda melhor que o filme.)

Wednesday, March 22, 2006

Vou-me embora de mim

Um anjo diz que sim outro diz que não.
O poeta diz talvez. E tu que dizes?

Tu que vives a vida de fora para dentro,
comandado por estimulos que entram maquilhados no teu sono e no teu sonho,
e que acordam contigo sem alguma vez te terem despertado.

Sofres porque habitas um palácio imaginario.
Sofres porque sabes como te chamas mas ignoras quem és.
Sofres porque fechas as janelas da tua casa e as janelas do teu espirito,mas a vida não pára de preparar surpresaspara quando abrires a porta na manhã seguinte.
Sofres porque cada orgasmo é uma festa maravilhosa que te estremece apenas o corpo.
Sofres porque cada satisfação tua foi atingida com um imenso rol de profundas insatisfaçoes .
Sofres porque quase sempre o que tu desejas não é o que tu queres .
Sofres porque não vais além do coração e porque o coração não vai além de ti. E porque ambos se atrapalham.
Sofres porque tens medo e porque tens medo de ter medo.
Sofres porque tens dificuldade em olhar para a frente , partir de ti para um outro tu, e porque olhar fixadamente para trás te transforma numa estátua de sal .
Sofres porque a tua honestidade é desonesta e a tua consciência é um juiz que tu mesmo te encarregas de corromper.
Sofres porque a tua infâmia pode preencher a primeira pagina e porque a primeira página nunca fala de ti nem que seja para mostrar a tua infâmia .
Sofres porque é grande a sensação de ameaça e porque enorme é o tédioe porque é fundo o desespero.
Sofres porque as razões porque és feliz são as mesmas razões da tua infelicidade.
Sofres porque é amarga a vida e doce a ilusão e insonsa a esperança.
Sofres porque sabes tudo isto e porque o conhecimento das coisa se o desconhecimentodas coisas são sempre a primeira e a última das razões para invocares o teu inútil sofrimento.

Joaquim Pessoa

Espaço-tempo

O que é a realidade?
Existirá realmente?
Será antes, na verdade,
uma ilusão existente?

O que é o tempo, então?
Flui mesmo pelos entes?
Ou é uma sucessão
infinita de presentes?

Faz sentido perguntar
aspectos desta temática?
Bem fácil é questionar!

Mais difícil é, na prática,
para tal filosofar,
obter resposta automática.

Alberto Terego